sexta-feira, 5 de abril de 2013

Poligolota #2

Grupo da residência a descer o elevador da Bica(? seria? talvez) e R a chatear a colega.

R: Olha lá Carmenzita, tu que está a aprender Italiano é que podias ensinar umas coisas à gente. Como é que se diz esquerda e direita em Italiano.

Carmenzita: Sinistra e Destra.

R: Sinistra Destra, Sinistra Destra, Sinistra Destra.

Quase ao fim do elevador já íamos todos tipo canção: Sinistra Destra, Sinistra Destra, Sinistra Destra.

Cortamos para uma ruela à esquerda quando descemos e depois novamente à direita a descer, quando encontramos um casal a subir a rua. Muito delicadamente, dizem olá, que são italianos e procuram o Elevador da Bica.

E R, no seu melhor, com um sotaque impecável, responde: À sinistra, à sinistra.

Casal agradece, e afastasse, fica tudo parado em espera, olhando uns para os outros, casal vira à esquerda e desaparece. Começaram a rir-se nesse momento e fui a chacota o resto da noite.

Descarada, chamaram-me eles, muito, respondi eu.

Poligolota #1

Estou na Residência Universitária há alguns meses, vou sair pela primeira vez ao Bairro Alto com um grupo de raparigas que não conheço muito bem. Chegamos a uma daquelas tabernas um bar, e sou apresentada a um inglês, não faço a mínima ideia do nome, que trabalha em PT há 6/7 meses.

Ele vira-se para mim e começa a falar inglês, eu delicadamente respondo:

R:  I do not speak English.

Ele faz cara de enjoado, vira-se para a rapariga que nos tinha apresentado e já não voltou a olhar para mim.

Uns dias mais tarde, com o mesmo grupo, fomos até ao Irish pub, lá estava o inglês.
Olha para mim com vontade de comer, no entanto olha melhor e vai daí diz o Inglês filho de uma senhora de vida fácil:

IFSVF: OOOHHH! You are this that does not speak English!!

E vira a cara para o outro lado. Eu como nessa altura era muito ingénua, contei até 3021 devagarinho... toquei-lhe no braço e disse (vou escrever com erros e tudo, pois continuo sem ter aprendido o maldito inglês):

R: How long you are in Portugal?

IFSVF: Six months!

R: Do you speak portuguise?

IFSVF: No!

R: Spanish?

IFSVF: No!

R: French?

IFSVF: No!

R: German (Foda-se, nesta altura acho que nem fraulein eu sabia dizer)

IFSVF: No!

R: OOOHHH!

R vira a cara vitoriosamente para o lado, e continua a apreciar a noite como se o IFSVF nem existisse.

Não outro dia fui informada pela colega que nos tinha apresentado, que nunca mais me ia convidar para sair, porque o amigo dela disse que eu tinha sido muito mal educada.


Olha, como dizia uma colega de trabalho dos tempos da fábrica, dá-me cá uns abalos à c*#$%na.

Poligolota #0

Explicação:

Aos doze deixei a escola para ir "ganhar dinheiro", após dois anos de francês na Tele-escola. Aprendi o básico apesar de não dizer uma frase seguida da  minha autoria. A pronúncia sempre muito gabada pela professora.
Aos dezassete achei por bem voltar à escola, de noite, já que sem estudos trabalhava muito e ganhava pouco.
Tive mais três anos de francês, onde continuava sem dizer uma frase completa de minha autoria, pronúncia continuou a ser gabada. entretanto via muita televisão, achei que percebia "muito" de inglês.
Aos vinte e três entrei na faculdade, numa residência universitária e descobri que noventa por cento dos manuais do meu curso eram em inglês... Tentei lê-los com um dicionário de tradução, não era capaz. Tentei lê-los em voz alta, não sabia ler os sons em inglês, lixei-me. Então arranjei uma amiga, daquelas de infância, que só se encontram aos vinte e quatro anos, ela lia em voz alta o manual, enquanto eu olhava desesperada para as letras e começava a associar os sons.

Eu gostava de falar, eu gosto de falar, pronto, eu gosto muito de falar, para falar com todos os colegas da residência comecei a praticar o meu francês e o meu inglês, ah, e o meu espanhol, e o meu italiano...
Só na minha primeira entrevista de emprego a sério, para um trabalho limpo, pelos vinte e quatro anos, é que disse: Bem, sabe eu não falo assim tão bem inglês. Depois de ter sido corrida imediatamente com a informação que não servia para as funções, passei a responder, em todas as entrevistas que fui, que falava bem inglês.

Agora imaginem as situações em que eu finjo pretendo falar estrangeiro, nem imaginam as situações constrangedoras hilariantes parvas em que me vejo envolvida.

Sem qualquer coerência histórico-temporal: